Na
ciência ocidental, o tema “Experiências de Quase-morte” é recente; faz apenas
30 anos que Raymond Moody publicou sobre (Fenwick,
2013). Desde que o tema começou a ser investigado cientificamente, há uma
tendência de buscar padronizações e estruturações (ver os marcadores "O
que é" / "Como este tema é pesquisado?"). Dentro
desta perspectiva de pesquisa, que pode ser considerada empírico-analítica,
diferenças culturais e subjetivas podem ficar em segundo plano. Em um
artigo publicado pelo site da Horizon Research, intitulado “Religião e Cultura
afetam as Experiências de quase-morte?”, afirma-se o interesse científico de
universalizar o fenômeno em estudo. Considerando que o interesse ideológico
adotado pelo pesquisador pode vir a influenciar o resultado da pesquisa, é
necessário que outros estudos analisem o fenômeno a partir de outro enfoque.
Adotar uma perspectiva histórico-hermenêutica pode ser um caminho para
compreender as especificidades e singularidades das EQMs.
De
fato, muitos estudos indicam que alguns elementos (experiência de estar fora do
corpo, percepção de luz ou de seres não-físicos, mudanças após a vivência) se
repetem nos relatos independentemente da idade ou do contexto sociocultural.
Entretanto, é inegável que estes elementos estão historicamente presentes
também em outras culturas e em contextos diferentes da “quase-morte”. Singh
Ji Maharaj (n.d), por exemplo, informa que através da
meditação “a pessoa pode viajar pelo além e gozar da mesma bem-aventurança e
amor descritos por aqueles que tiveram experiências de quase-morte” (p. 02). Além
disso, diferentes religiões defendem que somos capazes de entrar em contato com
seres de outros mundos não-físicos: os espíritas se comunicam com os falecidos,
os cristãos podem ver anjos ou santos e ainda há aqueles que interagem com
orixás ou espíritos da natureza.
O uso de drogas,
como o LSD, Ayahuasca ou
"Jurema", também pode gerar a percepção de seres não-físicos e
transformações pessoais. Kelmer (2001) relata sua experiência ao usar
"Jurema" e diz que foi "conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio
espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir
e ensinou coisas maravilhosas". Muitas das pessoas que utilizaram o LSD
também relatam ter tido experiências espirituais que mudaram a sua forma de
perceber o mundo. No
próprio âmbito hospitalar experiências semelhantes são vivenciadas por pessoas
próximas da morte e, neste caso, são chamadas “visões no leito de morte”. Há
inclusive casos relatados por pacientes que foram diagnosticados com alguma
psicopatologia. Mas, na perspectiva empírico-analítica esta diversidade de
contextos fica em segundo plano, pois há uma necessidade científica de
delimitar o objeto em estudo. Greyson, por exemplo, desenvolveu, em 1983, uma
escala para distinguir e identificar aqueles que vivenciaram uma EQM; a escala
é subdividida em quatro dimensões (cognitivo, afetivo, paranormal e
transcendental) e a distinção é realizada a partir das pontuações obtidas
(Fenwick, 2013; Fernandes, s.d).
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A
diversidade cultural também aparece na interpretação e verbalização das
experiências, como informa o site da “Horizon Research”. Há muitas
singularidades nos relatos. No entanto, poucos estudos focam nesta diversidade.
Veja a próxima postagem “Diversidade no Paraíso” e reflita sobre as influências
culturais na quase-morte.
Referências Bibliográficas
Fenwick, 2013. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência?. Rev Psiq Clín. 40(5):203-7.
Bauer, M. W.; Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa
com texto, imagem e som: um manual prático / tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópoles, R.J: Vozes.
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