quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Buscando Respostas

Nas postagens anteriores “Transformações Transcendentais”, “Diversidade no Paraíso” e “Diversidade nas EQMs” refletimos sobre algumas lacunas nos estudos das experiências de quase-morte, apontando a necessidade de mais investigações. Informamos sobre a ocorrência de EQMs em diferentes contextos culturais e sobre alguns efeitos intrigantes que tais experiências podem produzir naqueles que as vivenciam. Nestas postagens percebe-se a importância de compreender a participação da mente nestas experiências e o papel da subjetividade e do contexto sociocultural na mesma. 

Recentemente, tivemos a oportunidade de conhecer pessoas que vivenciaram EQMs ou experiências semelhantes. Merece destaque o relato de pessoas que citam “crises de ausência” ou a capacidade de sair do próprio corpo e não conseguiram encontrar apoio dentro da psicologia ou da saúde. Alguns casos como estes podem ser interpretados como indicadores de psicopatologia e esta é, freqüentemente, a única resposta que a psicologia é capaz de oferecer. No entanto, quando estes casos não podem ser considerados patológicos é preciso buscar outras respostas.

Woolger (n.d) nos fornece uma outra possibilidade de encarar estas experiências: sendo reais ou não em termos concretos, elas estão na mente e são psicologicamente reais. Embora a ciência ocidental esteja estudando este fenômeno recentemente, o oriente já desenvolveu muitas possíveis respostas, que foram inclusive analisadas pelo próprio Jung na elaboração de suas idéias e que aparecem também em algumas teorias da física quântica (ver “Consciência Quântica”). O Livro Tibetano dos Mortos, por exemplo, informa que a pessoa fará uma viagem durante a morte até o próximo nascimento e enfrentará neste caminho os seus próprios conflitos, que se revelarão em uma realidade percebida nos estados intermediários entre uma vida e a outra.

Independentemente de considerar tais experiências como produtos de alterações cerebrais, como indicadores da existência de uma consciência não-local ou como realidades espirituais, elas são uma oportunidade incrível para que alguém entre em contato com as suas questões existenciais mais profundas, estando diante da morte ou não. Algumas pessoas podem procurar tal contato através de drogas como LSD, Ayahuasca ou "Jurema", enquanto outras buscam em meditações. Por isso, é importante enfatizar que a psicologia deve ser capaz de auxiliar as pessoas que vivenciaram ou que procuram vivenciar este contato, contribuindo para que esta oportunidade seja de fato positiva.

Conheça mais sobre a visão do “Livro Tibetano dos Mortos”




Links (referências) 

Transformações Transcendentais

A maioria das pessoas que passam pela experiência de quase-morte relatam mudanças em seus comportamentos. Essas mudanças podem ser positivas e/ou negativas, dependendo do tipo de vivência tido. A presença com o ser de luz, a compaixão e a paz oferecidas pelo mesmo, faz com que os indivíduos ao retornarem, queiram ser melhores no trato com os outros e ter atitudes positivas diante da vida. As principais alterações positivas são: aumento da espiritualidade, redução do medo perante a morte, apreciação dos pequenos detalhes da vida e sensação de união com todas as coisas.

portaldossegredos.blogspot.com 
 Contrariamente a isto, há aqueles que relatam experiências negativas, onde ouviram vozes de maldição e viram seres que causavam medo e temor. Muitos podem vir a ter depressão e comportamentos conflituosos com outras pessoas. Contudo, a maioria daqueles que passam pelas experiências de quase-morte são afetados mais positivamente do que negativamente. Uma comprovação disto pode ser vista no estudo feito por Van Lommel et al, eles mediram a qualidade de vida dos sujeitos após a experiência usando o Life Change Questionnaire. A pesquisa mostrou mudanças positivas nas atitudes sociais e religiosas em tais indivíduos (Fenwick, 2013). 


www.reymisterios.com 
Além disto, existem sujeitos que tiveram comportamentos paranormais depois da EQM, como “pré-cognição, intuição, clarividência, telepatia, habilidades de cura e percepção da aura” (Fenwick, 2013 p.205). Há outros que descrevem experiências de cura, como por exemplo, Mellon Thomas Beneditct, que afirma ter sido curado de um câncer (http://www.mellen-thomas.com/quotes.html).

Dentro da área da psicologia, podemos constatar uma falta de preparo dos profissionais em lidar com esses tipos de comportamentos transformados. A maioria das pessoas que tiveram mudanças em suas vidas após a vivência são sujeitos sem alterações patológicas. Entendemos que deve-se ter um avanço nos estudos sobre este tema de forma que amplie as concepções do mesmo. O fato de existirem ainda indivíduos que relatam ter capacidades paranormais sem nunca ter vivenciado uma EQM, ressalta a importância de mais estudos para que os profissionais da psicologia estejam mais aptos para lidar com essas situações. É necessário que o psicólogo ao se deparar com tais sujeitos esteja atento a esses pontos relevantes. 

Referências Bibliográficas
Fenwick, 2013. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência?. Rev Psiq Clín. 40(5):203-207. 

Diversidade no Paraíso

Fenwick (2013) informa que “há muitas evidências de que o conteúdo de uma experiência mental é em si dependente da cultura na qual ela se dá” (p. 204). Podemos perceber isso nas singularidades de cada relato, as pessoas visitam dimensões diferentes e se comunicam com seres diferentes. Jung, por exemplo, relatou ter visto um hindu negro e um templo, semelhante ao que havia visitado em Sri Lanka. No mito de Platão, Er se encontra com juízes. (Ver publicação “de Platão até Jung”). No marcador ao lado “Relatos de Experiências”, percebe-se ainda mais diversidade:


destruidordedogmas.com.br 
"Um homem narrou que enquanto recuperava-se de uma cirurgia cardíaca, em uma UTI hospitalar, viu sair, dos cantos das paredes do teto do quarto, imagens assustadoras, de forma física indefinida, que voavam na sua direção como a querer sugar sua energia. Eram, segundo ele, vampiros na sua forma física e cor.(escuros e com dentes enormes) Ele, entubado, não conseguia gritar ou pedir socorro. Foi a aceleração do seu batimento cardíaco que chamou a atenção de médicos que o fizeram dormir através de uma injeção de calmante." (disponível em:  http://sobrenatural.org/relato/detalhar/10098/eqm___imagens_que_assustam/).



“Tudo tão confuso... E nesse momento um anjo apareceu diante de mim. Ele emitia uma luz forte, amarela e laranja




weddinghigoredani.blogspot.com
Ao prosseguir instintivamente por esse túnel turbulento que se movia em todas as direções, acima, abaixo e lateralmente, tendo como único som o zumbido de minhas asas tal como um beija-flor, uma Luz brilhante no fim desse redemoinho dissipou progressivamente a escuridão do túnel e, igualmente, a luz azul néon que as paredes refletiam”. (disponível em: http://www.nderf.org/Portuguese/august_eqm.htm)




sylribeiro.blogspot.com 



Osis e Haraldsson (citados em Banzoli, 2011) informam que indianos costumam ver divindades hindus e ocidentais, imagens cristãs. Uma indiana narrou que foi conduzida para o céu em uma vaca, enquanto um americano viu São José no seu caminho.





 E diante de tanta diversidade, surgem muitas perguntas: existiria uma realidade quântica, além deste mundo, com uma infinidade de dimensões? As diferenças relatadas estão apenas nas interpretações ou verbalizações das experiências? Tudo é apenas criação da nossa mente? Quem poderá nos dizer?

Referências Bibliográficas
Fenwick, 2013. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência?. Rev Psiq Clín. 40(5):203-207. 

Banzoli, L. (2011). Disponível em: http://lucasbanzoli.no.comunidades.net/index.php?pagina=1080325858

Diversidade nas EQMs

www.infonet.com.br
Na ciência ocidental, o tema “Experiências de Quase-morte” é recente; faz apenas 30 anos que Raymond Moody publicou sobre (Fenwick, 2013). Desde que o tema começou a ser investigado cientificamente, há uma tendência de buscar padronizações e estruturações (ver os marcadores "O que é" / "Como este tema é pesquisado?"). Dentro desta perspectiva de pesquisa, que pode ser considerada empírico-analítica, diferenças culturais e subjetivas podem ficar em segundo plano. Em um artigo publicado pelo site da Horizon Research, intitulado “Religião e Cultura afetam as Experiências de quase-morte?”, afirma-se o interesse científico de universalizar o fenômeno em estudo. Considerando que o interesse ideológico adotado pelo pesquisador pode vir a influenciar o resultado da pesquisa, é necessário que outros estudos analisem o fenômeno a partir de outro enfoque. Adotar uma perspectiva histórico-hermenêutica pode ser um caminho para compreender as especificidades e singularidades das EQMs.
De fato, muitos estudos indicam que alguns elementos (experiência de estar fora do corpo, percepção de luz ou de seres não-físicos, mudanças após a vivência) se repetem nos relatos independentemente da idade ou do contexto sociocultural. Entretanto, é inegável que estes elementos estão historicamente presentes também em outras culturas e em contextos diferentes da “quase-morte”. Singh Ji Maharaj (n.d), por exemplo, informa que através da meditação “a pessoa pode viajar pelo além e gozar da mesma bem-aventurança e amor descritos por aqueles que tiveram experiências de quase-morte” (p. 02). Além disso, diferentes religiões defendem que somos capazes de entrar em contato com seres de outros mundos não-físicos: os espíritas se comunicam com os falecidos, os cristãos podem ver anjos ou santos e ainda há aqueles que interagem com orixás ou espíritos da natureza.
conscienciaearesposta.blogspot.com
O uso de drogas, como o LSD, Ayahuasca ou "Jurema", também pode gerar a percepção de seres não-físicos e transformações pessoais. Kelmer (2001) relata sua experiência ao usar "Jurema" e diz que foi "conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas". Muitas das pessoas que utilizaram o LSD também relatam ter tido experiências espirituais que mudaram a sua forma de perceber o mundo. No próprio âmbito hospitalar experiências semelhantes são vivenciadas por pessoas próximas da morte e, neste caso, são chamadas “visões no leito de morte”. Há inclusive casos relatados por pacientes que foram diagnosticados com alguma psicopatologia. Mas, na perspectiva empírico-analítica esta diversidade de contextos fica em segundo plano, pois há uma necessidade científica de delimitar o objeto em estudo. Greyson, por exemplo, desenvolveu, em 1983, uma escala para distinguir e identificar aqueles que vivenciaram uma EQM; a escala é subdividida em quatro dimensões (cognitivo, afetivo, paranormal e transcendental) e a distinção é realizada a partir das pontuações obtidas (Fenwick, 2013; Fernandes, s.d).

http://pensaralem.files.wordpress.com/
A diversidade cultural também aparece na interpretação e verbalização das experiências, como informa o site da “Horizon Research”. Há muitas singularidades nos relatos. No entanto, poucos estudos focam nesta diversidade. Veja a próxima postagem “Diversidade no Paraíso” e reflita sobre as influências culturais na quase-morte.



Referências Bibliográficas
Fenwick, 2013. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência?. Rev Psiq Clín. 40(5):203-7. 

Bauer, M. W.; Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático /  tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópoles, R.J: Vozes.  

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