Assista o filme online: http://www.zonafilmes.net/2013/02/assistir-online-linha-mortal-flatliners.html
A justificativa apresentada por
Nelson para a realização do experimento revela a ideologia científica
predominante do ocidente: “a
filosofia falhou, a religião falhou – agora é a vez da ciência física”. Esta
ideologia coloca a ciência experimental no papel da “reveladora de verdades”, é
ela quem deve fornecer as respostas para a sociedade moderna e contemporânea. Toda
a experiência é controlada cientificamente – como será induzida a parada
cardíaca, como o cérebro será monitorado antes e depois da “morte cerebral”,
quanto tempo deve-se esperar até iniciar a reanimação e como iniciar a
reanimação. Este controle também reforça a ideologia científica do ocidente, a
qual defende que só é possível alcançar verdades através do controle e da
neutralidade em experimentos isolados nos laboratórios. É tanto que Nelson
chama o local aonde ocorrem as experiências de “meu laboratório”.
Uma outra manifestação
desta ideologia científica ocorre nas diversas vezes em que os estudantes
recorrem ao cérebro para obter explicações e só tendo certeza de que o cérebro
estava morto podiam aceitar interpretações não-médicas; o tempo em que o cérebro
permaneceu inativo configura-se como um critério para validar estas outras
explicações - a última experiência de Nelson, por exemplo, chegou a durar 12
minutos. Atualmente, predomina na ciência a idéia de que o cérebro contém as
respostas para diversas questões humanas, sejam elas biológicas, sociais ou
subjetivas. É tanto que quando os amigos começam a reviver imagens traumáticas
após a experiência, eles pensam que estão sofrendo alguma alucinação.
“Alucinação” é como muitos cientistas chamam as EQMs relatadas pelos pacientes,
explicando-as pelo funcionamento cerebral no processo do morrer até a
reanimação. No entanto, a experiência é sempre “real” para quem a vive, como ilustram
os personagens do filme, que se sentem profundamente transformados.
O
conflito entre ciência e religião também aparece: os estudantes pensam em “Deus”
nos momentos mais difíceis do filme. Quando Joe, Rachel, Nelson e David estão
sofrendo diante da manifestação de seus traumas do passado, Randy diz “estamos
pagando pela nossa arrogância” – a arrogância, neste caso, seria a pretensão
científica de obter respostas que entram no domínio religioso; o que se
confirma no final do filme, quando os estudantes não estão conseguindo trazer
Nelson de volta e David suplica “desculpe Deus, nós penetramos o seu
território”. A ideologia religiosa que
se manifesta no filme é predominantemente cristã, mas percebe-se a presença do
conceito hindu “karma”, também incorporada no Espiritismo. Os estudantes
acreditam que estão passando por uma “expiação”, tendo a oportunidade de
superar seus “karmas” ou erros/conflitos do passado, que foram evocados na EQM.
Os amigos precisam aprender sobre o perdão para se libertarem do sofrimento,
que eles mesmos geraram em si mesmos ao “penetrar o domínio de Deus”. E neste
domínio, a medicina não manda: os personagens só retornam à vida quando vivem o
conteúdo principal da experiência, não importa o quanto os colegas estejam se
esforçando para trazê-los; no final, ao tentar reanimar Nelson, Rachel confirma
isso ao dizer “não apresse, ele já vem”.
O
filme “Linha Mortal” ilustra muito bem as ideologias que atravessam os
discursos sobre as experiências de quase-morte. Curiosamente o filme termina
com a imagem de “Deus” apontando o dedo para nós, que assistimos ao filme –
transmitindo a noção do poder dele sobre nós diante das nossas escolhas, e do
nosso livre-arbítrio perante elas, trazendo boas ou más consequências.
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