sábado, 23 de novembro de 2013
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
O que é Experiência de Quase-Morte (EQM)?
Ao longo da história
da humanidade, homens e mulheres se questionaram sobre o que acontece na hora
da morte e buscaram explicações na filosofia ou na religião; esta busca
continua até hoje e já existem investigações científicas a este respeito. Na
ciência, Raymond Moody, introduziu o termo “Near Death Experience ou NDE”
(Experiência de Quase-Morte ou EQM, em português). Este termo passou a ser
usado para se referir à experiências subjetivas que eram relatadas por
pessoas que estiveram à beira da morte, mas retornaram.
As EQMs apresentam alguns elementos
característicos, que se repetem nos relatos de diferentes pessoas, como a visão
de um túnel e de uma luz forte, a sensação de estar em uma outra dimensão, a
sensação de estar fora do corpo e de poder vê-lo de cima, um sentimento de paz,
a percepção de seres não-físicos, a experiência de rever a sua vida, entre
outros fenômenos incomuns (Greyson, 2007; Parnia & Fenwick, 2001). Os
cientistas estão buscando formas de compreender estes fenômenos, que para os
religiosos podem ser confirmações de sua fé.
Mas e você, o que acha? As EQMs confirmam
as ideias religiosas? A ciência será capaz de explicar tudo e retirar a EQM da
esfera espiritual? Ou a EQM é uma ponte, que permitirá um maior diálogo entre a
ciência e a espiritualidade? Se inspire no vídeo e responda a nossa enquete. E
caso queira saber de mais informações, leia o texto “Aprofundando”.
Reportagem de EQM (Experiência de Quase-Morte) no Fantástico-2:
Aprofundando
Greyson (2007) informa que estas
experiências já eram descritas esporadicamente no século XIX. Mas foi apenas em
1975 que o termo EQM surgiu em um livro publicado por Moody, um médico
americano, que divulgou experiências incomuns de 150 pessoas que quase morreram
(Parnia & Fenwick, 2001). Antes de Moody, Heim, um alpinista suíço, foi o
primeiro a descrever a sua experiência de quase-morte (Delgalarrondo, 2008).
Experiências desta natureza, que trazem conteúdos místicos e não se
adéquam ás explicações usualmente aceitas, são tratadas como “experiências
anômalas ou EAs” e estão associadas à definição do estado alterado de
consciência (EAC), que nas palavras de Charles Tart (1972, como citado em Almeida
e Lotufo Neto, 2003; p.22) é “uma alteração qualitativa no padrão global de
funcionamento mental que o indivíduo sente ser radicalmente diferente do seu
modo usual de funcionamento”.
EAs são consideradas elementos importantes nas sociedades, mas têm recebido
pouca atenção da comunidade científica, ou são abordados de forma pouco
rigorosa, e frequentemente são tratadas como fenômenos raros, associados à
“culturas primitivas” ou como indicadores de psicopatologia. No entanto, várias
pesquisas populacionais recentes têm demonstrado que estas experiências são
muito freqüentes e nas últimas décadas tem havido um reflorescimento das
pesquisas nessa área. (Almeida e Lotufo Neto, 2003).
É provável que o número de casos de EQMs
aumente dado o avanço das técnicas modernas de ressuscitação (Serralta, Cony,
Cembranel, Greyson & Szobt, 2010) e que o número de cientistas interessados
no tema também cresça. Greyson (2007), por exemplo, aponta três grandes razões
para pesquisar as EQMs: estas experiências geram mudanças abrangentes e
duráveis nas crenças, valores e atitudes dos pacientes diante da vida e da
morte; estas experiências podem ser confundidas com estados psicopatológicos, mas
necessitam de uma abordagem diferente; e o estudo destas experiências poderá
promover uma maior compreensão acerca do funcionamento da consciência e de sua
relação com o cérebro.
As EQMs podem durar apenas alguns
segundos ou minutos (Dalgalarrondo, 2008) e acontecem em crianças ou adultos,
de culturas diferentes e independentemente da fé do paciente, embora haja
diferenças culturais e religiosas no conteúdo subjetivo da mesma (Parnia &
Fenwick, 2001). Os relatos obtidos revelam um conjunto de alterações nos
processos cognitivos, pois a percepção funciona de uma forma radicalmente
diferente, permitindo experiências extracorpóreas, e a memória também se
altera, permitindo a experiência de rever toda a sua vida. A partir de Greyson
(1983ª, como citado em Oliveira, n.d), é possível classificar essas alterações
em quatro dimensões: a cognitiva, incluindo os pensamentos acelerados; a
afetiva, incluindo a sensação de paz; a paranormal, incluindo a experiência
extracorpórea; e a transcendental, incluindo o contato com seres não-físicos.
Nós pretendemos, através deste humilde
blog, refletir sobre as polêmicas relações entre a mente e o corpo e entre a
ciência e a espiritualidade, mostrar como a ciência vem estudando as EQMs,
esclarecendo sobre as limitações no estudo desta área, e revelar os
questionamentos e as interpretações propostas a partir de diferentes pontos de
vista. Acreditamos que os interessados neste tema devem manter a cabeça e o
coração abertos para diferentes verdades, pois ciência e religião possuem seus
méritos e suas limitações; a busca pelo conhecimento deve ultrapassar a nossa
necessidade de comprovar nossas próprias crenças ou hipóteses. Veja as próximas
publicações.
Bibliografias
Todos as referências utilizadas estão na página "Indicações de vídeos e leituras".
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"O que você quer saber?".
O passado e o presente do estudo da EQM. Dificuldades e limitações.
Uma boa parte dos estudos sobre a EQM se
propõe a encontrar as causas, a etiologia do fenômeno, mas ainda não há um consenso.
As hipóteses explicativas propostas incluem variáveis relativas à aspectos biológicos,
psicológicos e sociais; fatores lingüísticos também afetam os estudos. Existe ainda
um embate entre “biológico x social”, mas todos nós temos uma herança cultural,
abrangendo significados, normas e valores que orientam o nosso modo particular
de ver o mundo e nós mesmos.
Por causa dessa influência cultural, as
EQMs são investigadas através de estudos transculturais, além dos longitudinais
Os estudos transculturais podem determinar quais são as características que
permanecem invariáveis e quais são aquelas que são moduladas diante do contexto
social. Já os estudos longitudinais são bons para inferências causais, pois
permitem estabelecer uma sequência temporal de eventos, identificando o
surgimento de cada variável associada. (Almeida e Lotufo Neto, 2003).
Há ainda estudos retrospectivos e
prospectivos, os retrospectivos se baseiam nos relatos de pacientes que já
vivenciaram uma EQM e os prospectivos acompanham pacientes que podem ou não vir
a ter esta experiência. French (2001, como citado em Greyson, 2007) informa que
a maioria dos estudos nesta área são retrospectivos e que isto é problemático
na medida em que é difícil confiar na memória dos pacientes. Parnia e Fenwick
(2001), por sua vez, relatam estudos prospectivos feitos com pacientes
cardíacos que vivenciaram EQMs ao sofrer paradas cardíacas. E quanto ao uso de
instrumentos de avaliação, o The Near-Death Experience Scale (NDE) é o
principal, mas pesquisas serão necessárias para adaptá-lo ao português do
Brasil (Serralta; Cony; Cembranel;
Greyson; Szobt, 2010).
As investigações nesta área precisam
associar diferentes métodos de pesquisa e diferentes saberes. Caso queira saber
mais sobre as hipóteses, as dificuldades e as limitações das pesquisas nesta
área, leia o texto “aprofundando”. E se quiser conhecer um estudo brasileiro,
veja o vídeo do Globo repórter no qual aparece uma iniciativa da UFJF:
Aprofundando
Apesar do caráter biopsicosocial deste
fenômeno, as hipóteses formuladas podem enfatizar mais uma dimensão do que as
outras. French (2005; Greyson, 2000, como citado em Serralta; Cony; Cembranel; Greyson; Szobt, 2010) informa que
teorias biológicas “acentuam a relação da EQM com hipoxia cerebral, anoxia,
hipercarbia, funcionamento de neurotransmissores e atividades anormais nos
lobos temporais” (p.36); as teorias psicológicas, por sua vez, “salientam que
EQMs parecem constituir a expressão da dissociação como mecanismo de defesa
diante de situações de perigo extremo” (p.36).
Algumas pesquisas revelaram a importância
de fatores psicológicos. As EQMs são descritas como experiências que acontecem
em situações de risco à vida, no entanto, estudos demonstraram que estas podem
ocorrer em contextos nos quais o risco não é clinicamente real (Serralta; Cony; Cembranel; Greyson; Szobt (2010).
O risco pode existir apenas na percepção subjetiva do paciente, o que gera a
hipótese de que um dos fatores desencadeantes das experiências de quase-morte
pode ser a crença que o paciente tem de que está efetivamente morrendo, o que
seria uma variável complexa na compreensão da EQM.
Também é importante considerar os fatores
lingüísticos. O repertório oferecido pelo vocabulário ocidental, pela linguagem
cotidiana, revela-se insuficiente e inadequado para a descrição de vivências
espirituais. Quem nunca chegou a afirmar que não tinha palavras para expressar
algo? Imagine então esta sensação diante de uma experiência de quase-morte. Stevenson
(1983, como citado em Almeida e Lotufo Neto, 2003) argumenta que algumas
palavras como “alucinação”, por exemplo, são muito inapropriadas para descrever
estas experiências, principalmente quando usados por aqueles que não as
vivenciaram; inibem o paciente.
Por estas razões, a avaliação semântica
fornecida por um instrumento em diferentes culturas deve receber uma atenção
especial, pois esta “envolve questões culturais e de linguagem que podem
comprometer a validade conceitual e as propriedades psicométricas do
instrumento” (Hauck e cols, 2006, como citado em Serralta; Cony; Cembranel; Greyson; Szobt, 2010, p.38). Desse
modo, ao traduzir os relatos para outra língua é necessário se basear “nos conceitos
envolvidos, e não nas palavras” (Alarcón, 1995, como citado em Almeida e Lotufo
Neto, 2003, p.25).
Percebe-se que o tema é complexo e há
dificuldades para estabelecer um consenso sobre a causa das EQMs. Critica-se,
por exemplo, algumas incoerências ou falta de plausibilidade nas teorias
biológicas, mas ao julgar algo como biologicamente plausível estamos nos
baseando nos conhecimentos existentes e é preciso reconhecer que algumas idéias
propostas podem parecer estranhas porque são novas para a ciência (Hill, 1965,
como citado em Almeida e Lotufo Neto, 2003). Além disso, o ato de determinar
uma causa “é sempre um julgamento feito pelo pesquisador à luz das evidências
disponíveis” (Almeida e Lotufo Neto, 2003, p.26).
Como há uma influência social, temos a
tendência de padronizar o “bom” ou “normal”, como aquilo que é padrão em nossa
cultura, e como “ruim” ou “patológico” os fenômenos, costumes e visões de
outras culturas. O mesmo acontece com relação aos diferentes tipos de
consciência e os EAC, como a EQM. É o que mostram Almeida e Lotufo Neto (2003),
ao afirmar que é comum “considerar um EAC como ‘bom’ ou ‘ruim’ avaliando-o
apenas segundo os critérios mais desenvolvidos em nosso estado habitual de
consciência (raciocínio lógico, habilidades matemáticas...)”(p.24). Há o
julgamento de que o nosso estado ordinário de consciência é algo natural e o
único modo de lidar corretamente com a realidade, porém nossas percepções são
variadas e, apesar de terem base na realidade física, dependem dos recursos da
nossa aparelhagem biológica e são moldados pelo ambiente cultural onde nos
desenvolvemos.
O pesquisador frente a esse tema, precisa se permitir ver que não há uma verdade absoluta, tendo uma abertura diante de outras perspectivas. A ciência não deve ignorar ou desqualificar a literatura produzida pelas próprias comunidades ou indivíduos que vivenciam os fenômenos em estudo, pois esta literatura pode enriquecer as investigações. Felizmente, a ciência já está mudando a sua postura diante do diferente e já há um reconhecimento, mesmo pelo DSM-IV, de que nem todas as experiências místicas são evidências de psicopatologia (Cardeña et al., 1994, como citado em Almeida e Lotufo Neto, 2003). Esperamos que o diálogo entre os diferentes saberes aumente e contribua para a investigação deste tema tão complexo.
O pesquisador frente a esse tema, precisa se permitir ver que não há uma verdade absoluta, tendo uma abertura diante de outras perspectivas. A ciência não deve ignorar ou desqualificar a literatura produzida pelas próprias comunidades ou indivíduos que vivenciam os fenômenos em estudo, pois esta literatura pode enriquecer as investigações. Felizmente, a ciência já está mudando a sua postura diante do diferente e já há um reconhecimento, mesmo pelo DSM-IV, de que nem todas as experiências místicas são evidências de psicopatologia (Cardeña et al., 1994, como citado em Almeida e Lotufo Neto, 2003). Esperamos que o diálogo entre os diferentes saberes aumente e contribua para a investigação deste tema tão complexo.
Bibliografias
Todos as referências utilizadas estão na página "Indicações de vídeos e leituras". E se quiser conhecer mais sobre os estudos brasileiros na área das experiências espirituais, visite o link e se informe sobre a iniciativa da UFJF.
http://www.ufjf.br/nupes/linhas-de-pesquisa/experiencias-religiosas-e-espirituais/.
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Morte e Consciência
O que seria a morte?
A morte tornou-se questão para o homem a partir de
seus sentimentos ambivalentes para com o outro. A morte de um inimigo podia ser
concebida sob forma de aniquilamento total, mas a perda de um ente querido bem
como odiado sob alguns aspectos fê-lo criar a noção de alma, de uma continuação
pós-morte, de forma que este, que antes da morte era fonte de ódio e amor,
passa a também ser fonte de temor e respeito como espírito (Freud, 1914-16, p.332-333,
como citado em Alves, 2013).
A
morte, até pouco tempo, tinha por definição geral, o momento em que a mente e o
corpo deixavam de funcionar ao mesmo tempo, o “ultimo suspiro” ou quando o
coração não batia mais. Os testes para essa comprovação, pela simplicidade, não
tinham problemas para comprovar a ausência de pulso, dos batimentos cardíacos e
dos movimentos dos pulmões. Observam-se as representações que estão ligadas ao "morrer", temas e signos que marcam sua trajetória na literatura: sono, noite,
trevas, terra, céu, destino, etc...
A morte
recebeu inúmeros conceitos ao passar dos anos devido aos avanços tecnológicos
da medicina e das informações que eram disponibilizadas, tanto por conta dos
valores culturais da sociedade acerca do assunto quanto pelo conhecimento
cientifico. Segundo Lima (2004) definiu-se, então, um conceito para cada um dos
tópicos estudados, para que assim, houvesse apenas um conceito universal para
todos os países:
O
conceito de morte reflete a
compreensão social dos limites possíveis da vida e baseia-se na experiência
vivida. Relaciona-se de forma complexa com o conhecimento cientifico. Os critérios de morte refletem o que
julgamos necessário acontecer – à luz do conhecimento fisiopatológico – para
que aquilo que estabelecemos como morte possa acontecer. Os testes são os procedimentos práticos que nos ajudam a determinar
quando os critérios são satisfeitos, ou seja, quando ocorre a morte (Lima,
2004, p. 07).
Souza (2009, como
citado em Alves, 2013) esclarece que embora a biociência e a medicina estudem o
processo físico da morte, é papel da psicologia compreender a mente diante da
finitude da vida. A morte acompanha todo o trajeto do ser humano desde o seu
nascimento até o encerramento do ciclo vital, traz consigo uma carga emocional
relativamente alta, seja em quem está em seu estado terminal, seja naqueles que
estão a sua volta. Atualmente, morrer passou a ser visto como um processo e não
mais como um evento ou momento.
As implicações do diagnóstico da morte para a compreensão das experiências de quase-morte.
A morte
clínica é observada quando há parada das funções cardíacas, respiratórias e do
funcionamento cerebral, mas, com possibilidade de reanimação. Essas situações
não definem o momento da morte propriamente dita. Atualmente, existem vários
métodos para o diagnóstico de morte. A reanimação confirma que a morte não é um
evento que ocorre apenas uma vez. Por isso, faz-se necessária a distinção entre
a morte dita clínica e a morte vital.
Na
morte vital, não existe a possibilidade de reanimação, é quando ocorre a morte
das células do corpo. A morte vital é “uma parada irreversível das funções
vitais” (Souza, 2009, p.58, como citado em Alves, 2013). “[...] Em outras
palavras, a ‘morte’ é definida como o estado do corpo do qual é impossível
voltar à vida” (Moody, 1979, p.142, como citado em Alves, 2013). Mas, como
informa Souza (2009, como citado em Alves, 2013), entre a morte clínica e a
morte vital existe uma distância temporal de aproximadamente cinco minutos,
podendo chegar até os trinta minutos. Isso nos leva a refletir que em alguns
casos de experiências de quase-morte, a pessoa foi diagnosticada como morta
clinicamente, embora ainda estivesse viva e, portanto, o seu cérebro ainda não
tinha parado de funcionar durante a EQM. Essa reflexão apóia o pressuposto
científico de que a consciência é uma função do cérebro.
O
diagnóstico de morte encefálica é decisivo na busca pela confirmação do
pressuposto mencionado; é definido pela total ausência das atividades ou
funções cerebrais e, consequentemente, pela perda da consciência. Este
diagnóstico é a máxima expressão da insuficiência do cérebro, havendo inclusive
a perda dos reflexos do tronco cerebral. (Alves, 2013). A ocorrência de uma EQM
em um quadro assim seria um forte indicador para questionar a validade do
pressuposto assumido cientificamente.
Na maioria das
vezes, quem passa por uma morte clínica e é reanimado, não se lembra de nada do
que ocorreu. Algumas pessoas relatam que parecia como se elas estivessem em um
sonho e o fato de acordar pudesse ter apagado o que elas tinham visto e/ou
vivido. Em outros casos, são relatados, que os indivíduos lembram vividamente
de tudo o que aconteceu durante todo o processo de morte clínica. Parte desses
relatos evidenciam experiências muito vívidas do que estava ocorrendo ao seu
redor e/ou em torno do indivíduo, essas experiências são chamadas de EQM.
Segundo Borges (1999, como citado em Alves, 2013) na EQM, a consciência extracorpórea não percebe apenas o mundo físico, mas parece relacionar-se com outro tipo de realidade não-física, experimentando com freqüência um sentimento profundo de amor e de paz, assim como de unidade com todo o universo.
De acordo com Greyson (2007, como citado em Alves, 2013) os aspectos transcendentais ou místicos e a ocorrência de um funcionamento mental ampliado, quando o cérebro está gravemente danificado, desafiam a teoria comum da neurociência, a qual afirma que a consciência é unicamente o produto de processos cerebrais, ou que a mente é meramente um epifenômeno (um fenômeno juntando a outro). O conhecimento da relação mente-cérebro poderia ser ampliada através de uma exploração de ocorrências extraordinárias como a EQM, que pode revelar as limitações do modelo atual de compreensão e afirmar a necessidade de se desenvolver um modelo explicativo mais abrangente (Alves, 2013). A compreensão do tema ainda está nos seus primórdios.
Segundo Borges (1999, como citado em Alves, 2013) na EQM, a consciência extracorpórea não percebe apenas o mundo físico, mas parece relacionar-se com outro tipo de realidade não-física, experimentando com freqüência um sentimento profundo de amor e de paz, assim como de unidade com todo o universo.
De acordo com Greyson (2007, como citado em Alves, 2013) os aspectos transcendentais ou místicos e a ocorrência de um funcionamento mental ampliado, quando o cérebro está gravemente danificado, desafiam a teoria comum da neurociência, a qual afirma que a consciência é unicamente o produto de processos cerebrais, ou que a mente é meramente um epifenômeno (um fenômeno juntando a outro). O conhecimento da relação mente-cérebro poderia ser ampliada através de uma exploração de ocorrências extraordinárias como a EQM, que pode revelar as limitações do modelo atual de compreensão e afirmar a necessidade de se desenvolver um modelo explicativo mais abrangente (Alves, 2013). A compreensão do tema ainda está nos seus primórdios.
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Relação mente x cérebro nas Experiências de Quase-Morte
Acerca do tema da
relação espiritualidade x saúde, pesquisas têm aumentado não somente no Brasil
como também no exterior. O foco dessas pesquisas costuma girar em torno dos aspectos
sociológicos ou das próprias crenças religiosas, mas os trabalhos recentes
enfocam também a mente como sendo um agente na causa das alterações cerebrais e
corporais.
Experiências de quase-morte (EQM) costumam ser
explicadas através de alterações cerebrais, sendo consideradas uma provável
alucinação. Contudo, não há consenso nas pesquisas e nem comprovações empíricas
suficientes para a hipótese. Segundo Moreira-Almeida (2009), há ocorrência de experiências de quase-morte que não estão relacionadas com os níveis de
oxigenação ou fluxo sanguíneo, contrariando uma das explicações propostas.
Parnia (2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009), defendeu recentemente que
os estudos sobre as EQMs podem oferecer a “chave” para entender o mistério da
consciência.
Aprofundando
O interesse em investigações sobre as Experiências Espirituais (EE), sobre sua natureza, origem e implicações na Relação Mente-Corpo (RMC) ainda é pequeno. Pierre Janet, William James, Frederic Myers e Carl G. Jung são exemplos de pesquisadores que trabalharam com experiências espirituais e suas implicações para a questão da RMC. Estudos deixados por eles forneceram uma base para as teorias sobre mente subconsciente que existem hoje. (Moreira-Almeida, 2009).
A ciência atualmente busca estudar o
cérebro como sendo um agente na causa das alterações observadas nestas
experiências. No entanto, Beauregard (2007, como citado em Moreira-Almeida,
2009) concluiu, através de dados de estudos com neuroimagem, que o conteúdo
intencional dos processos mentais, como as crenças e os pensamentos, afetam
significativamente o funcionamento cerebral em nível molecular e neural. Dessa
forma, é necessário considerar as variáveis mentalísticas e não só a bioquímica
do cérebro.
Stapp (2006) e Beauregard (2005) (como
citado em Moreira-Almeida, 2009), defendiam um interacionismo não reducionista
entre mente e cérebro. Stapp, por exemplo, propõe um modelo “neurofísico de
interação mente-corpo”, o qual não conflitaria com as leis da física. Uma das
consequência da aceitação das hipóteses reducionistas parece ser a negação da
existência de fenômenos não facilmente explicáveis.
Estudos sobre experiências anômalas, com
conteúdos místicos ou espirituais, continuarão sofrendo limitações se suas
análises continuarem a se restringir somente às comparações com as ocorrências
mentais do cotidiano ou com o estado de consciência considerado normal. Estas
experiências podem fornecer vários dados relevantes para a compreensão da
relação entre a mente e o corpo (RMC), entre a consciência e o cérebro. É
possível estudá-las a partir de dois pressupostos: a consciência e a mente são
funções do cérebro x existe uma mente independente do cérebro. A falta de
consenso sobre a explicação influencia a geração de crenças na existência de
uma alma independente do corpo e da vida após a morte. (Moreira-Almeida, 2009).
O funcionamento lúcido durante as EQM,
relatado por alguns pacientes, intriga os cientistas sobre a RMC. Pesquisas
mostraram que o EEG indica ausência de atividade elétrica cerebral cortical
após 10 ou 20 segundos de parada cardíaca, porém alguns pacientes que tiveram
EQM durante as paradas afirmaram que conseguiam pensar com maior lucidez do que
em um estado de vigília. Dados como esse questionam o pressuposto científico de
que a consciência é dependente do funcionamento cerebral (Moreira-Almeida,
2009).
Outra característica dos relatos de EQMs
é a descrição feita pelo paciente de situações que ocorreram enquanto o mesmo
estava clinicamente diagnostico como inconsciente e que não poderiam ter sido
percebidas com seus sentidos normais, mesmo que estivesse consciente.
Surpreendentemente, algumas dessas descrições são posteriormente confirmadas
por terceiros. (Moreira-Almeida, 2009). Há ainda casos inexplicáveis de cegos
de nascença que afirmam vivenciar percepções visuais durante a experiência.
Indo numa direção oposto à da maioria dos
cientistas, há autores que estudaram casos de EQM em paradas cardíacas e defendem
que:
[...] paradoxalmente a mente humana e a consciência podem continuar a funcionar durante a parada cardíaca [...] levantando a possibilidade que a mente humana e a consciência possam continuar a funcionar na ausência de função cerebral (Parnia, 2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009, p.296).
Esse texto teve como objetivo introduzir
de forma breve uma revisão sobre a relevância das experiências de quase-morte
para o entendimento da relação entre a mente e o corpo. Nota-se a necessidade
de mais estudos para compreender os mistérios da natureza da consciência, sua
relação com o corpo e a possibilidade da sobrevivência após a morte; o tema
pode ser abordado dentro da perspectiva científica de pesquisa, buscando uma
investigação rigorosa (Moreira-Almeida, 2006). É importante ressaltar que
existem pesquisadores tentando fazer um outro tipo de ciência, adotando um
outro paradigma sobre a consciência, como é o caso do trabalho pioneiro do
brasileiro Waldo Vieira (http://www.iipc.org.br/).
Definição de Consciência x Mente e Cérebro
Na visão comum da neurociência, a mente é o cérebro em funcionamento, ou seja, é o conjunto de processos cognitivos que ocorrem no cérebro. A consciência, nesta perspectiva, é uma propriedade da mente, que depende de um estado cerebral ativo. No entanto, alguns pesquisadores acreditam que a mente e, consequentemente, a consciência, seriam independentes e não localizadas no cérebro. Esta polêmica é conhecida como a Relação Mente x Cérebro, que foi explorado no texto acima.
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O cérebro nas EQMs
Apesar de suas explicações se
aproximarem bastante do campo místico e religioso, as experiências de
quase-morte também vêm chamando atenção dos cientistas, que buscam explicações
neurológicas para a sensação de paz, o túnel misterioso e a luz vibrante tanto
descritas por pacientes que em algum momento já vivenciaram esta experiência.
Veja alguns das hipóteses propostas:
Defesa
diante da morte:
Uma pesquisa mostrada pela Gallup
(como citado no site da Sociedade Racionalista da USP), indica que cerca de 3%
da população dos EUA diz ter tido uma experiência de quase-morte. Entretanto,
um outro estudo com 58 pacientes apontou que cerca de 30 deles não estavam
realmente em perigo de morte, mas pensavam que estivesse. Seria a EQM um
mecanismo de defesa da mente?
O lócus ceruleus, por exemplo, é uma região do
encéfalo envolvida no mecanismo de liberação de noradrenalina, um hormônio do
estresse, durante um trauma; no caso das EQMs, o trauma seria o medo de estar
perto da morte. O lócus ceruleus está conectado com a amígdala e o hipocampo,
regiões que modulam a emoção e a memória, processos alterados durante estas
experiências. Este fato ajuda a confirmar o discurso elaborado pela Sociedade
Racionalista da USP de que todas as características das experiências de quase-morte
possuem alguma base na alteração do funcionamento normal do encéfalo.
Fatores psicológicos
As EQMs também recebem
explicações psicológicas, freqüentemente relacionadas com a reação diante de um
evento traumático (morte). Sabe-se que as EQMs marcam a vida dos indivíduos de
tal forma, que estes precisam se reorganizar psicologicamente, mudando a
personalidade, as relações interpessoais e a percepção da vida e da morte. A
possibilidade de morrer pode desencadear mecanismos de defesa, como a descarga
emocional e memórias intrusivas, que ocorrem também na “dissociação” e no
“transtorno do estresse pós-traumático”. (Greyson, 2007)
Neurotransmissores
Alguns pesquisadores propõem
ainda que a bioquímica dos neurotransmissores pode ser uma explicação para a
experiência. Indica-se o efeito de endorfinas e opióides endógenos, que estão
associados à mecanismos de defesa e são liberados em condições de estresse.
Menciona-se também a adrenalina, a serotonina, a vasopressina e o glutamato.
(Greyson, 2007). Em uma entrevista na revista Abril, K. Nelson informa que o
anestésico quetamina provoca experiências extracorpóreas, mas que EQMs podem
ocorrer sem o uso de medicamentos.
Fluxo sanguíneo e oxigênio
Outro fator importante em relação à compreensão da EQM é o fluxo
sanguíneo. Kevin Nelson (como citado no site da Sociedade Racionalista da USP),
em seu livro The Spiritual Doorway in the Brain – a Neurologist’s Search for the God
Experience (O Portal Espiritual
no Cérebro – a Busca de um Neurologista pela Experiência Divina), diz que
normalmente 20% do fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro, mas que este
mesmo fluxo pode abaixar para 6% antes de ficarmos inconscientes. Quando enfim
desmaiamos, o nervo vago (que se conecta com o coração) desloca a nossa consciência
para o sono REM, causando uma intromissão, onde se transita da vigília para o
sono. Essa intromissão pode acarretar em uma “paralisia do sono”, onde as
pessoas despertas experimentam experiências surpreendentemente vívidas e
incomuns.
Além disso, a redução do fluxo sanguíneo nos olhos é
uma explicação plausível para a visão do túnel de luz, pois a periferia da
retina é mais sensível para esta redução do que o centro e isto justifica a
percepção de um túnel (pontos de luz centrais). Greyson (2007) informa ainda
que o baixo nível de oxigênio (hipóxia ou apóxia) pode causar alucinação. Em
uma pesquisa feita pela força aérea americana, por exemplo, os pilotos foram
submetidos a uma grande pressão que diminuiu o fluxo de sangue e o oxigênio do
cérebro. Após a experiência, eles relataram ver o túnel, as luzes e a vida passando diante de seus olhos; veja o vídeo a
seguir:
Lobo Temporal
Uma área do cérebro
está recebendo destaque nos estudos de experiências místicas, esta área é o
lobo temporal (Greyson, 2010). Borges (n.d) afirma que Penfield presenciou
relatos sobre a sensação de deixar o corpo enquanto estimulava esta região do
cérebro. Em um experimento, que ficou conhecido como o "Capacete de
Deus", demonstra-se que após a ativação desta área são relatadas aparições
de entidades e luzes, experiências extracorpóreas, onde o paciente se sente
flutuar e vê seu próprio corpo dormindo, entre outras vivências incomuns. Veja
o vídeo a seguir:
Controvérsias
Parnia e Fenwick (2001) informam que a maior parte dos
estudos na área são retrospectivos, mas que um estudo prospectivo de um ano com
pacientes cardíacos não apoiou as hipóteses explicativas baseadas no nível de
oxigênio ou no uso de medicamentos, entre outras. A lembrança do que aconteceu
no período em que o cérebro estava debilitado e em que o paciente estava
inconsciente consiste em um dos dados que questionam a validade das hipóteses levantadas.
Estes mesmos autores afirmam a
necessidade de elaborar novos esquemas para explicar fenômenos subjetivos, como
a EQM; as pesquisas podem contribuir para a compreensão do que é popularmente
conhecido como espiritualidade.
Greyson (2007) também informa sobre os dados que
questionam a validade destas hipóteses: a percepção visual em cegos; a descrição
confirmada por terceiros de detalhes que ocorreram durante a operação ou de
eventos que ocorreram a uma distancia inalcançável pelos sentidos. Há também
casos específicos que foram monitorados fisiologicamente e que contrariaram as hipóteses
sobre o funcionamento cerebral durante uma EQM.
Todas as hipóteses listadas são plausíveis e recebem o
apoio de muitos cientistas, embora ainda não haja consenso sobre as suas
comprovações ou validade. Apesar dos avanços das pesquisas nessa área, a EQM
continua sendo um assunto misterioso para os cientistas, algumas falhas nas
explicações dão margem para se pensar EQM como um fenômeno espiritual. Porém, apesar de tudo, ainda não se sabe se a
EQM é propriamente um produto da mente ou do cérebro.
Percebe-se que
quando o assunto é apresentado pela mídia, explora-se o caráter misterioso
desse fenômeno ou se cria a tendência de confirmar alguma das explicações, ora
afirmando idéias da ciência ora afirmando suposições espirituais. Mas ao ler os
textos científicos, constata-se que são muitas hipóteses e pouco consenso; as
explicações propostas até agora precisam ser aprimoradas e podem até ser modificadas
a partir de pesquisas futuras.
Links
Link da revista Abril – entrevista com o cientista Kevin Nelson:
Link da Sociedade Racionalista da USP – a Neurologia das Experiência de Quase-Morte:
Bibliografias
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Linguagem e Religião nas interpretações das EQMs
Ao entrar no campo de estudos sobre as Experiências de Quase Morte (EQMs), é praticamente impossível não falar sobre contextos religiosos, por mais que a ciência tenha crescido e se desenvolvido, ganhando assim uma forte influência na sociedade e no meio acadêmico, ela se depara muitas vezes com suas próprias limitações. Uma das limitações existentes é a dificuldade de expressar em palavras o que as pessoas vivenciaram na EQM, cabendo assim um aprofundamento do estudo por parte da psicologia da linguagem.
Moody (1979, como citado em Junior, 2010), um dos principais pesquisadores de EQM, entrevistou diversas pessoas que tinham passado pela experiência de quase-morte e retornado. Em suas publicações sobre a pesquisa, ele relata que a maioria das pessoas mostrou uma grande semelhança em seus discursos, tendo como base ideias espirituais, mesmo sendo elas de diversas religiões e/ou de diferentes circunstâncias sociais.
A idade também parece não importar, pois crianças e adultos relatam experiências semelhantes, ainda que não compartilhem o mesmo estado de desenvolvimento. Ou seja, embora não possuam o mesmo nível de abstração no raciocínio e na linguagem, nem as mesmas expectativas ou representações sobre a morte, crianças e adultos relatam pontos em comum (Greyson, 2007). É necessário, no entanto, considerar as lacunas existentes no estudo sobre as singularidades e o conteúdo subjetivo das EQMs; a maior parte dos estudos busca analisar a universalidade, deixando de lado as diferenças no conteúdo.
Até aqueles que não possuem convicções religiosas específicas, ao passar pela EQM visualizam imagens de seres de luz e tem experiências parecidas e/ou iguais aqueles que possuem crenças definidas, mostrando assim que as EQMs não se aplicam unicamente à pessoas religiosas (Champlin, 1982, como citado em Junior, 2010). Diante das informações apresentadas evidencia-se a necessidade de analisar a associação entre o presente tema e as interpretações religiosas. Pelo fato de existir uma grande quantidade de religiões diferentes, iremos nos ater a duas principais: a cristã e a espírita.
A visão cristã
A visão cristã, que tem como base os ensinamentos da Bíblia, tem pontos de convergência e divergência sobre as EQMs. É possível observar em diversas passagens bíblicas, principalmente no novo testamento, uma abordagem com mais detalhes sobre como é o outro lado da vida. No livro de apocalipse, a Bíblia mostra com maior riqueza a descrição do céu, onde há um rio cristalino, árvores com frutos e seres cantando músicas celestiais. A cidade também, mesmo não tendo lâmpadas é iluminada pelo Cordeiro (Ap 22:5). Pode-se observar uma correlação entre os relatos de pessoas que passaram pelas EQMs, com as descrições acima citadas. Champlin (1982, p.250-251 como citado em Junior, 2010; p.09) descreve o depoimento de uma mulher: “Havia uma luz dourada, por toda a parte (...) e também havia música. E eu parecia estar em um campo dotado de riachos, grama, árvores e montanhas”.
Com relação às descrições que as pessoas relatam das vivências, é curioso observar que mesmo sendo de culturas diferentes e diversas regiões do mundo, uma grande parte dos pacientes alegam ter visto em sua EQM, um túnel de luz que ao atravessar viam campos, e lugares, e objetos relacionados à paz e harmonia. Esses signos parecem ser universais e transculturais, é claro que alguns elementos relatados na experiência poderão ser singulares da história de vida de cada um dos sujeitos, partindo assim para o estudo da macrolinguística e das influências culturais.
Junior (2010) pontua: “outra semelhança interessante entre as
EQMs e uma narrativa bíblica é sobre a inefabilidade da experiência vivida”
(p.10). A maioria das pessoas que passam por esta experiência tem dificuldade de expressar o que viveram, sendo as palavras humanas insuficientes para descrever o que viram. Isto aconteceu também com o apóstolo Paulo, ao se dirigir aos cristãos da cidade de Corinto ele disse que: “foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar” (2 Co 12: 4). Este aspecto deve ser bem analisado na hora de correlacionar as EQMs e a psicologia da linguagem, pois muitas vezes a semântica existente é pouca para relatar uma experiência deste tipo. É necessário que haja uma tentativa de adaptação do que foi visto aos signos existentes dentro de uma cultura específica.
Um ponto principal de divergência entre o contexto cristão e as EQMs consiste no fato de que a maioria das pessoas que passaram pela experiência de quase-morte dizem ter tido EQM positiva (experimentaram coisas boas durante o episódio) mesmo sem terem uma religião específica ou seguirem fielmente as doutrinas bíblicas antes do acontecimento. Conforme a Bíblia, aqueles que em vida não aceitaram a salvação de Cristo e não cumpriram com os seus mandamentos terão como consequência a condenação eterna no inferno. Com isto, é difícil para alguns líderes religiosos aceitarem o fato de que a maioria dos homens experimentam amor e misericórdia após a morte biológica, mesmo sem merecer (Junior, 2010).
A visão espírita
A interpretação espírita sobre as EQMs está relacionada em alguns aspectos com a religião cristã e em outros divergem completamente. O espiritismo acredita, assim como o cristianismo, em conseqüências para as nossas ações. Mas enquanto o cristianismo adota a concepção de céu ou inferno, o espiritismo adota a concepção de reencarnação. Para os espíritas, as pessoas podem evoluir ao longo de várias encarnações ou vidas na terra. O espiritismo enxerga o corpo como um meio de expressão das vivências espirituais, considera uma interdependência entre a mente e o corpo e acredita que as pessoas podem entrar em contato com a espiritualidade. Dentro desta visão é possível haver comunicação com pessoas já falecidas ou até recordações de vidas passadas, o que é coerente com alguns relatos de EQMs.
Além disso, para os religiosos, estas experiências são manifestações da espiritualidade humana e, por isso, não são apenas o resultado de uma alteração cerebral, como defendem alguns cientistas. Guy Lyon Playfair (n.d., como citado em Nahm, 2011) relatou um caso de uma paciente que havia se tornado incapaz de reconhecer os seus familiares. Antes de morrer, ela teve a experiência de ver e reconhecer seus irmãos, que já haviam falecido há bastante tempo. A visão foi tão real que ela pediu a enfermeira que a servisse três xícaras de chá. Algumas pessoas relatam estados de lucidez próximos da morte, independentemente de sua condição física e para alguns, isto pode indicar a existência de uma dimensão espiritual além do corpo.
Não pretendemos com este blog dizer qual religião está certa ou errada (longe disto), queremos sim, propor uma reflexão crítica sobre a importância de incluir, nos estudos sobre as EQMs, as interpretações religiosas. Para muitas religiões existentes o ser humano é dotado de espírito e/ou alma e a maioria acredita em uma vida após a morte e na figura de um ser transcendental, denominado por muitos como Deus, que muitas vezes vai além da compreensão humana e do empirismo cientifico. Mas, em vez de haver um duelo entre ciência X religião, acreditamos que possa existir uma maior interação entre os dois pólos, até pela importância de pensar e conceber o homem não apenas como um ser biopsicossocial, mas também como espiritual.
Bibliografias
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Espiritualidade e Saúde
Ao longo do tempo, é possível observar um
duelo de separação entre a ciência e a religião como dois campos oposto e
divergentes. Contudo no inicio deste século pode-se observar um desenvolvimento
maior de pesquisas que envolvem a espiritualidade e a saúde tendo aquela como
fundamental para o tratamento de pacientes em casos terminais.
Elias (2003) mostra em sua pesquisa a
importância das vivências espirituais para os pacientes. Vale salientar que na
ciência, espiritualidade e religiosidade são diferentes. O fato de pertencer ou
não há uma organização religiosa não determina a espiritualidade do indivíduo
(Thonsem, 1998, como citado em Elias & Giglio, 2002).
Sabe-se que a espiritualidade sempre
esteve presente na humanidade, o que indica a sua importância na filogênese da
espécie. A espiritualidade preencheu a necessidade humana de encontrar
explicações para tudo aquilo que os afetava, mas estava fora do seu controle,
como é o caso da morte. Negligenciar este fator é, desse modo, ignorar uma
necessidade humana, que influencia a nossa percepção dos fatos e a nossa
capacidade de lidar com eles; o que ,consequentemente, afeta o nosso bem-estar e a nossa saúde.
Os resultados da pesquisa citada
indicaram a importância de considerar a espiritualidade no contexto da saúde.
Experiências de quase-morte, entre outras experiências espirituais, exercem
impactos positivos nos pacientes e podem aprimorar sua forma de lidar com a
doença, fornecendo novas maneiras de encarar o processo de morrer. Para saber mais, leia o texto “aprofundando”.
Aprofundando
O momento da morte é encarado pela
maioria das pessoas como algo tenebroso, sombrio e assustador, levando muitas
vezes os pacientes em quadros de doenças irreversíveis a se desesperarem,
agravando mais ainda o seu estado de saúde e sua situação psíquica. Pensando
nisso, Elias e Giglio, (2002, p.3) se utilizaram de “técnicas de Relaxamento
Mental e Visualização de Imagens Mentais com elementos que descrevem a natureza
da Espiritualidade, como forma de re-significar a dor simbólica da morte em
pacientes terminais”. Esse tipo de intervenção enquadra-se dentro dos objetivos
da psicoterapia breve de apoio, que tem como finalidade segundo Elias (2003,
p.2) “recuperar o equilíbrio homeostático que se expressa no alivio dos
sintomas”.
A pesquisadora pedia aos pacientes para
visualizarem em sua mente imagens confortadoras ligadas a espiritualidade como
paisagens tranquilas e bonitas, levando-os a desfocar o pensamento do medo, das
angustias frente à morte, focando-os em estados mentais de serenidade, beleza e
paz. Espiritualidade neste contexto, foi definida conforme Elias e Giglio
(2002, p.4), como estando “relacionada a uma atitude, a uma ação interna, a uma
ampliação da consciência, a um contato do indivíduo com sentimentos e
pensamentos superiores”.
Os resultados da pesquisa comprovaram que
as pessoas que foram submetidas a este tipo de intervenção obtiveram melhor
qualidade de vida no processo de morrer, bem como uma morte digna e serena. Um
exemplo disto foi este caso relatado por Elias (2003, p.4):
J.C.B., aproximadamente uma hora
antes do óbito, pediu que a psicóloga colocasse a música suave e instrumental
durante o atendimento e pediu-lhe para orientar o processo de visualização com
paisagens tranquilas e bonitas. No momento do óbito ainda escutava a música e
estava sereno. Havia a possibilidade do paciente morrer por asfixia, com muita
aflição, o que não ocorreu.
Muitas pessoas antes de morrer em uma
das seções obtiveram experiências metafísicas, como foi o caso de uma criança
que disse ter visto três crianças vestidas de branco, que tinham vindo brincar
com ela, após o acontecido a criança se mostrou mais relaxada (Elias, 2003).
Isto nos faz refletir sobre a importância das EQMs. Experiências de
quase-morte, como o próprio nome sugere, estão associadas à pacientes que
sofreram um risco real de morte, no entanto, algumas pesquisas indicam que a
mesma pode ocorrer diante da percepção subjetiva de um risco, que pode não ser
clinicamente real (Serralta; Cony;
Cembranel; Greyson; Szobt (2010). Diante disso, alguns teóricos defendem
que tais experiências são defesas subjetivas diante da morte. Portanto,
experiências com conteúdo espiritual são relevantes para o paciente no
enfrentamento do processo de morrer.
Além disso, Os pacientes que passam pelas
EQMs positivas tendem a melhorar psicologicamente, como também a querer ser uma
pessoa melhor depois da experiência, devido ao amor e compaixão oferecidos pelo
ser de luz (Junior, 2010). Há também os casos de EQMs negativas, mas de qualquer forma tais vivências induzem o indivíduo a mudar suas
atitudes diante da vida. O processo de mudança pode ser difícil para algumas pessoas, incluindo alterações de personalidade, depressões ou conflitos nas relações interpessoais, mas é sempre significativo (Greyson, 2007). Este processo não estão ligado à
religiosidade, visto que, nem todos que passaram pela experiência têm uma
crença definida, está ligado sim à espiritualidade, de acordo com a definição proposta anteriormente.
Como podemos
observar sumariamente, é importante que haja uma inclusão da espiritualidade
nos tratamentos médicos convencionais em pacientes portadores de doenças graves
e/ou terminais, como uma forma de re-significação da dor simbólica da morte,
levando os mesmos a terem uma morte de forma digna e serena. Propomos também
uma reflexão sobre as EQMs, tida por muitos como algo ruim ou assustador,
quando na verdade a maioria das pessoas tem consequências positivas ao passar
pela experiência.
Se quiser refletir um pouco mais sobre as EQMs em
crianças, assista o vídeo:
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