segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O cérebro nas EQMs


Apesar de suas explicações se aproximarem bastante do campo místico e religioso, as experiências de quase-morte também vêm chamando atenção dos cientistas, que buscam explicações neurológicas para a sensação de paz, o túnel misterioso e a luz vibrante tanto descritas por pacientes que em algum momento já vivenciaram esta experiência. Veja alguns das hipóteses propostas:

Defesa diante da morte:

Uma pesquisa mostrada pela Gallup (como citado no site da Sociedade Racionalista da USP), indica que cerca de 3% da população dos EUA diz ter tido uma experiência de quase-morte. Entretanto, um outro estudo com 58 pacientes apontou que cerca de 30 deles não estavam realmente em perigo de morte, mas pensavam que estivesse. Seria a EQM um mecanismo de defesa da mente?
 O lócus ceruleus, por exemplo, é uma região do encéfalo envolvida no mecanismo de liberação de noradrenalina, um hormônio do estresse, durante um trauma; no caso das EQMs, o trauma seria o medo de estar perto da morte. O lócus ceruleus está conectado com a amígdala e o hipocampo, regiões que modulam a emoção e a memória, processos alterados durante estas experiências. Este fato ajuda a confirmar o discurso elaborado pela Sociedade Racionalista da USP de que todas as características das experiências de quase-morte possuem alguma base na alteração do funcionamento normal do encéfalo.

Fatores psicológicos

            As EQMs também recebem explicações psicológicas, freqüentemente relacionadas com a reação diante de um evento traumático (morte). Sabe-se que as EQMs marcam a vida dos indivíduos de tal forma, que estes precisam se reorganizar psicologicamente, mudando a personalidade, as relações interpessoais e a percepção da vida e da morte. A possibilidade de morrer pode desencadear mecanismos de defesa, como a descarga emocional e memórias intrusivas, que ocorrem também na “dissociação” e no “transtorno do estresse pós-traumático”. (Greyson, 2007)

Neurotransmissores

            Alguns pesquisadores propõem ainda que a bioquímica dos neurotransmissores pode ser uma explicação para a experiência. Indica-se o efeito de endorfinas e opióides endógenos, que estão associados à mecanismos de defesa e são liberados em condições de estresse. Menciona-se também a adrenalina, a serotonina, a vasopressina e o glutamato. (Greyson, 2007). Em uma entrevista na revista Abril, K. Nelson informa que o anestésico quetamina provoca experiências extracorpóreas, mas que EQMs podem ocorrer sem o uso de medicamentos.

Fluxo sanguíneo e oxigênio

Outro fator importante em relação à compreensão da EQM é o fluxo sanguíneo. Kevin Nelson (como citado no site da Sociedade Racionalista da USP), em seu livro The Spiritual Doorway in the Brain – a Neurologist’s Search for the God Experience (O Portal Espiritual no Cérebro – a Busca de um Neurologista pela Experiência Divina), diz que normalmente 20% do fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro, mas que este mesmo fluxo pode abaixar para 6% antes de ficarmos inconscientes. Quando enfim desmaiamos, o nervo vago (que se conecta com o coração) desloca a nossa consciência para o sono REM, causando uma intromissão, onde se transita da vigília para o sono. Essa intromissão pode acarretar em uma “paralisia do sono”, onde as pessoas despertas experimentam experiências surpreendentemente vívidas e incomuns.
Além disso, a redução do fluxo sanguíneo nos olhos é uma explicação plausível para a visão do túnel de luz, pois a periferia da retina é mais sensível para esta redução do que o centro e isto justifica a percepção de um túnel (pontos de luz centrais). Greyson (2007) informa ainda que o baixo nível de oxigênio (hipóxia ou apóxia) pode causar alucinação. Em uma pesquisa feita pela força aérea americana, por exemplo, os pilotos foram submetidos a uma grande pressão que diminuiu o fluxo de sangue e o oxigênio do cérebro. Após a experiência, eles relataram ver o túnel, as luzes e a vida passando diante de seus olhos; veja o vídeo a seguir:

  

Lobo Temporal

Uma área do cérebro está recebendo destaque nos estudos de experiências místicas, esta área é o lobo temporal (Greyson, 2010). Borges (n.d) afirma que Penfield presenciou relatos sobre a sensação de deixar o corpo enquanto estimulava esta região do cérebro. Em um experimento, que ficou conhecido como o "Capacete de Deus", demonstra-se que após a ativação desta área são relatadas aparições de entidades e luzes, experiências extracorpóreas, onde o paciente se sente flutuar e vê seu próprio corpo dormindo, entre outras vivências incomuns. Veja o vídeo a seguir: 


Controvérsias

            Parnia e Fenwick (2001) informam que a maior parte dos estudos na área são retrospectivos, mas que um estudo prospectivo de um ano com pacientes cardíacos não apoiou as hipóteses explicativas baseadas no nível de oxigênio ou no uso de medicamentos, entre outras. A lembrança do que aconteceu no período em que o cérebro estava debilitado e em que o paciente estava inconsciente consiste em um dos dados que questionam a validade das hipóteses levantadas.  Estes mesmos autores afirmam a necessidade de elaborar novos esquemas para explicar fenômenos subjetivos, como a EQM; as pesquisas podem contribuir para a compreensão do que é popularmente conhecido como espiritualidade.
            Greyson (2007) também informa sobre os dados que questionam a validade destas hipóteses: a percepção visual em cegos; a descrição confirmada por terceiros de detalhes que ocorreram durante a operação ou de eventos que ocorreram a uma distancia inalcançável pelos sentidos. Há também casos específicos que foram monitorados fisiologicamente e que contrariaram as hipóteses sobre o funcionamento cerebral durante uma EQM.  




           
            Todas as hipóteses listadas são plausíveis e recebem o apoio de muitos cientistas, embora ainda não haja consenso sobre as suas comprovações ou validade. Apesar dos avanços das pesquisas nessa área, a EQM continua sendo um assunto misterioso para os cientistas, algumas falhas nas explicações dão margem para se pensar EQM como um fenômeno espiritual.  Porém, apesar de tudo, ainda não se sabe se a EQM é propriamente um produto da mente ou do cérebro.
Percebe-se que quando o assunto é apresentado pela mídia, explora-se o caráter misterioso desse fenômeno ou se cria a tendência de confirmar alguma das explicações, ora afirmando idéias da ciência ora afirmando suposições espirituais. Mas ao ler os textos científicos, constata-se que são muitas hipóteses e pouco consenso; as explicações propostas até agora precisam ser aprimoradas e podem até ser modificadas a partir de pesquisas futuras.  

Links

Link da revista Abril – entrevista com o cientista Kevin Nelson:

Link da Sociedade Racionalista da USP – a Neurologia das Experiência de Quase-Morte:

Bibliografias

Todos as referências utilizadas estão na página "Indicações de vídeos e leituras". 

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