Acerca do tema da
relação espiritualidade x saúde, pesquisas têm aumentado não somente no Brasil
como também no exterior. O foco dessas pesquisas costuma girar em torno dos aspectos
sociológicos ou das próprias crenças religiosas, mas os trabalhos recentes
enfocam também a mente como sendo um agente na causa das alterações cerebrais e
corporais.
Experiências de quase-morte (EQM) costumam ser
explicadas através de alterações cerebrais, sendo consideradas uma provável
alucinação. Contudo, não há consenso nas pesquisas e nem comprovações empíricas
suficientes para a hipótese. Segundo Moreira-Almeida (2009), há ocorrência de experiências de quase-morte que não estão relacionadas com os níveis de
oxigenação ou fluxo sanguíneo, contrariando uma das explicações propostas.
Parnia (2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009), defendeu recentemente que
os estudos sobre as EQMs podem oferecer a “chave” para entender o mistério da
consciência.
Aprofundando
O interesse em investigações sobre as Experiências Espirituais (EE), sobre sua natureza, origem e implicações na Relação Mente-Corpo (RMC) ainda é pequeno. Pierre Janet, William James, Frederic Myers e Carl G. Jung são exemplos de pesquisadores que trabalharam com experiências espirituais e suas implicações para a questão da RMC. Estudos deixados por eles forneceram uma base para as teorias sobre mente subconsciente que existem hoje. (Moreira-Almeida, 2009).
A ciência atualmente busca estudar o
cérebro como sendo um agente na causa das alterações observadas nestas
experiências. No entanto, Beauregard (2007, como citado em Moreira-Almeida,
2009) concluiu, através de dados de estudos com neuroimagem, que o conteúdo
intencional dos processos mentais, como as crenças e os pensamentos, afetam
significativamente o funcionamento cerebral em nível molecular e neural. Dessa
forma, é necessário considerar as variáveis mentalísticas e não só a bioquímica
do cérebro.
Stapp (2006) e Beauregard (2005) (como
citado em Moreira-Almeida, 2009), defendiam um interacionismo não reducionista
entre mente e cérebro. Stapp, por exemplo, propõe um modelo “neurofísico de
interação mente-corpo”, o qual não conflitaria com as leis da física. Uma das
consequência da aceitação das hipóteses reducionistas parece ser a negação da
existência de fenômenos não facilmente explicáveis.
Estudos sobre experiências anômalas, com
conteúdos místicos ou espirituais, continuarão sofrendo limitações se suas
análises continuarem a se restringir somente às comparações com as ocorrências
mentais do cotidiano ou com o estado de consciência considerado normal. Estas
experiências podem fornecer vários dados relevantes para a compreensão da
relação entre a mente e o corpo (RMC), entre a consciência e o cérebro. É
possível estudá-las a partir de dois pressupostos: a consciência e a mente são
funções do cérebro x existe uma mente independente do cérebro. A falta de
consenso sobre a explicação influencia a geração de crenças na existência de
uma alma independente do corpo e da vida após a morte. (Moreira-Almeida, 2009).
O funcionamento lúcido durante as EQM,
relatado por alguns pacientes, intriga os cientistas sobre a RMC. Pesquisas
mostraram que o EEG indica ausência de atividade elétrica cerebral cortical
após 10 ou 20 segundos de parada cardíaca, porém alguns pacientes que tiveram
EQM durante as paradas afirmaram que conseguiam pensar com maior lucidez do que
em um estado de vigília. Dados como esse questionam o pressuposto científico de
que a consciência é dependente do funcionamento cerebral (Moreira-Almeida,
2009).
Outra característica dos relatos de EQMs
é a descrição feita pelo paciente de situações que ocorreram enquanto o mesmo
estava clinicamente diagnostico como inconsciente e que não poderiam ter sido
percebidas com seus sentidos normais, mesmo que estivesse consciente.
Surpreendentemente, algumas dessas descrições são posteriormente confirmadas
por terceiros. (Moreira-Almeida, 2009). Há ainda casos inexplicáveis de cegos
de nascença que afirmam vivenciar percepções visuais durante a experiência.
Indo numa direção oposto à da maioria dos
cientistas, há autores que estudaram casos de EQM em paradas cardíacas e defendem
que:
[...] paradoxalmente a mente humana e a consciência podem continuar a funcionar durante a parada cardíaca [...] levantando a possibilidade que a mente humana e a consciência possam continuar a funcionar na ausência de função cerebral (Parnia, 2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009, p.296).
Esse texto teve como objetivo introduzir
de forma breve uma revisão sobre a relevância das experiências de quase-morte
para o entendimento da relação entre a mente e o corpo. Nota-se a necessidade
de mais estudos para compreender os mistérios da natureza da consciência, sua
relação com o corpo e a possibilidade da sobrevivência após a morte; o tema
pode ser abordado dentro da perspectiva científica de pesquisa, buscando uma
investigação rigorosa (Moreira-Almeida, 2006). É importante ressaltar que
existem pesquisadores tentando fazer um outro tipo de ciência, adotando um
outro paradigma sobre a consciência, como é o caso do trabalho pioneiro do
brasileiro Waldo Vieira (http://www.iipc.org.br/).
Definição de Consciência x Mente e Cérebro
Na visão comum da neurociência, a mente é o cérebro em funcionamento, ou seja, é o conjunto de processos cognitivos que ocorrem no cérebro. A consciência, nesta perspectiva, é uma propriedade da mente, que depende de um estado cerebral ativo. No entanto, alguns pesquisadores acreditam que a mente e, consequentemente, a consciência, seriam independentes e não localizadas no cérebro. Esta polêmica é conhecida como a Relação Mente x Cérebro, que foi explorado no texto acima.
Bibliografias
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