segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Relação mente x cérebro nas Experiências de Quase-Morte

Acerca do tema da relação espiritualidade x saúde, pesquisas têm aumentado não somente no Brasil como também no exterior. O foco dessas pesquisas costuma girar em torno dos aspectos sociológicos ou das próprias crenças religiosas, mas os trabalhos recentes enfocam também a mente como sendo um agente na causa das alterações cerebrais e corporais.
 Experiências de quase-morte (EQM) costumam ser explicadas através de alterações cerebrais, sendo consideradas uma provável alucinação. Contudo, não há consenso nas pesquisas e nem comprovações empíricas suficientes para a hipótese. Segundo Moreira-Almeida (2009), há ocorrência de experiências de quase-morte que não estão relacionadas com os níveis de oxigenação ou fluxo sanguíneo, contrariando uma das explicações propostas. Parnia (2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009), defendeu recentemente que os estudos sobre as EQMs podem oferecer a “chave” para entender o mistério da consciência.

Aprofundando


         O interesse em investigações sobre as Experiências Espirituais (EE), sobre sua natureza, origem e implicações na Relação Mente-Corpo (RMC) ainda é pequeno. Pierre Janet, William James, Frederic Myers e Carl G. Jung são exemplos de pesquisadores que trabalharam com experiências espirituais e suas implicações para a questão da RMC. Estudos deixados por eles forneceram uma base para as teorias sobre mente subconsciente que existem hoje.  (Moreira-Almeida, 2009). 
A ciência atualmente busca estudar o cérebro como sendo um agente na causa das alterações observadas nestas experiências. No entanto, Beauregard (2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009) concluiu, através de dados de estudos com neuroimagem, que o conteúdo intencional dos processos mentais, como as crenças e os pensamentos, afetam significativamente o funcionamento cerebral em nível molecular e neural. Dessa forma, é necessário considerar as variáveis mentalísticas e não só a bioquímica do cérebro.
Stapp (2006) e Beauregard (2005) (como citado em Moreira-Almeida, 2009), defendiam um interacionismo não reducionista entre mente e cérebro. Stapp, por exemplo, propõe um modelo “neurofísico de interação mente-corpo”, o qual não conflitaria com as leis da física. Uma das consequência da aceitação das hipóteses reducionistas parece ser a negação da existência de fenômenos não facilmente explicáveis.
Estudos sobre experiências anômalas, com conteúdos místicos ou espirituais, continuarão sofrendo limitações se suas análises continuarem a se restringir somente às comparações com as ocorrências mentais do cotidiano ou com o estado de consciência considerado normal. Estas experiências podem fornecer vários dados relevantes para a compreensão da relação entre a mente e o corpo (RMC), entre a consciência e o cérebro. É possível estudá-las a partir de dois pressupostos: a consciência e a mente são funções do cérebro x existe uma mente independente do cérebro. A falta de consenso sobre a explicação influencia a geração de crenças na existência de uma alma independente do corpo e da vida após a morte. (Moreira-Almeida, 2009).
O funcionamento lúcido durante as EQM, relatado por alguns pacientes, intriga os cientistas sobre a RMC. Pesquisas mostraram que o EEG indica ausência de atividade elétrica cerebral cortical após 10 ou 20 segundos de parada cardíaca, porém alguns pacientes que tiveram EQM durante as paradas afirmaram que conseguiam pensar com maior lucidez do que em um estado de vigília. Dados como esse questionam o pressuposto científico de que a consciência é dependente do funcionamento cerebral (Moreira-Almeida, 2009).
Outra característica dos relatos de EQMs é a descrição feita pelo paciente de situações que ocorreram enquanto o mesmo estava clinicamente diagnostico como inconsciente e que não poderiam ter sido percebidas com seus sentidos normais, mesmo que estivesse consciente. Surpreendentemente, algumas dessas descrições são posteriormente confirmadas por terceiros. (Moreira-Almeida, 2009). Há ainda casos inexplicáveis de cegos de nascença que afirmam vivenciar percepções visuais durante a experiência.
Indo numa direção oposto à da maioria dos cientistas, há autores que estudaram casos de EQM em paradas cardíacas e defendem que:

[...] paradoxalmente a mente humana e a consciência podem continuar a funcionar durante a parada cardíaca [...] levantando a possibilidade que a mente humana e a consciência possam continuar a funcionar na ausência de função cerebral (Parnia, 2007, como citado em Moreira-Almeida, 2009, p.296).

Esse texto teve como objetivo introduzir de forma breve uma revisão sobre a relevância das experiências de quase-morte para o entendimento da relação entre a mente e o corpo. Nota-se a necessidade de mais estudos para compreender os mistérios da natureza da consciência, sua relação com o corpo e a possibilidade da sobrevivência após a morte; o tema pode ser abordado dentro da perspectiva científica de pesquisa, buscando uma investigação rigorosa (Moreira-Almeida, 2006). É importante ressaltar que existem pesquisadores tentando fazer um outro tipo de ciência, adotando um outro paradigma sobre a consciência, como é o caso do trabalho pioneiro do brasileiro Waldo Vieira (http://www.iipc.org.br/).

Definição de Consciência x Mente e Cérebro


Na visão comum da neurociência, a mente é o cérebro em funcionamento, ou seja, é o conjunto de processos cognitivos que ocorrem no cérebro. A consciência, nesta perspectiva, é uma propriedade da mente, que depende de um estado cerebral ativo. No entanto, alguns pesquisadores acreditam que a mente e, consequentemente, a consciência, seriam independentes e não localizadas no cérebro. Esta polêmica é conhecida como a Relação Mente x Cérebro, que foi explorado no texto acima.      


Bibliografias

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