Ao longo do tempo, é possível observar um
duelo de separação entre a ciência e a religião como dois campos oposto e
divergentes. Contudo no inicio deste século pode-se observar um desenvolvimento
maior de pesquisas que envolvem a espiritualidade e a saúde tendo aquela como
fundamental para o tratamento de pacientes em casos terminais.
Elias (2003) mostra em sua pesquisa a
importância das vivências espirituais para os pacientes. Vale salientar que na
ciência, espiritualidade e religiosidade são diferentes. O fato de pertencer ou
não há uma organização religiosa não determina a espiritualidade do indivíduo
(Thonsem, 1998, como citado em Elias & Giglio, 2002).
Sabe-se que a espiritualidade sempre
esteve presente na humanidade, o que indica a sua importância na filogênese da
espécie. A espiritualidade preencheu a necessidade humana de encontrar
explicações para tudo aquilo que os afetava, mas estava fora do seu controle,
como é o caso da morte. Negligenciar este fator é, desse modo, ignorar uma
necessidade humana, que influencia a nossa percepção dos fatos e a nossa
capacidade de lidar com eles; o que ,consequentemente, afeta o nosso bem-estar e a nossa saúde.
Os resultados da pesquisa citada
indicaram a importância de considerar a espiritualidade no contexto da saúde.
Experiências de quase-morte, entre outras experiências espirituais, exercem
impactos positivos nos pacientes e podem aprimorar sua forma de lidar com a
doença, fornecendo novas maneiras de encarar o processo de morrer. Para saber mais, leia o texto “aprofundando”.
Aprofundando
O momento da morte é encarado pela
maioria das pessoas como algo tenebroso, sombrio e assustador, levando muitas
vezes os pacientes em quadros de doenças irreversíveis a se desesperarem,
agravando mais ainda o seu estado de saúde e sua situação psíquica. Pensando
nisso, Elias e Giglio, (2002, p.3) se utilizaram de “técnicas de Relaxamento
Mental e Visualização de Imagens Mentais com elementos que descrevem a natureza
da Espiritualidade, como forma de re-significar a dor simbólica da morte em
pacientes terminais”. Esse tipo de intervenção enquadra-se dentro dos objetivos
da psicoterapia breve de apoio, que tem como finalidade segundo Elias (2003,
p.2) “recuperar o equilíbrio homeostático que se expressa no alivio dos
sintomas”.
A pesquisadora pedia aos pacientes para
visualizarem em sua mente imagens confortadoras ligadas a espiritualidade como
paisagens tranquilas e bonitas, levando-os a desfocar o pensamento do medo, das
angustias frente à morte, focando-os em estados mentais de serenidade, beleza e
paz. Espiritualidade neste contexto, foi definida conforme Elias e Giglio
(2002, p.4), como estando “relacionada a uma atitude, a uma ação interna, a uma
ampliação da consciência, a um contato do indivíduo com sentimentos e
pensamentos superiores”.
Os resultados da pesquisa comprovaram que
as pessoas que foram submetidas a este tipo de intervenção obtiveram melhor
qualidade de vida no processo de morrer, bem como uma morte digna e serena. Um
exemplo disto foi este caso relatado por Elias (2003, p.4):
J.C.B., aproximadamente uma hora
antes do óbito, pediu que a psicóloga colocasse a música suave e instrumental
durante o atendimento e pediu-lhe para orientar o processo de visualização com
paisagens tranquilas e bonitas. No momento do óbito ainda escutava a música e
estava sereno. Havia a possibilidade do paciente morrer por asfixia, com muita
aflição, o que não ocorreu.
Muitas pessoas antes de morrer em uma
das seções obtiveram experiências metafísicas, como foi o caso de uma criança
que disse ter visto três crianças vestidas de branco, que tinham vindo brincar
com ela, após o acontecido a criança se mostrou mais relaxada (Elias, 2003).
Isto nos faz refletir sobre a importância das EQMs. Experiências de
quase-morte, como o próprio nome sugere, estão associadas à pacientes que
sofreram um risco real de morte, no entanto, algumas pesquisas indicam que a
mesma pode ocorrer diante da percepção subjetiva de um risco, que pode não ser
clinicamente real (Serralta; Cony;
Cembranel; Greyson; Szobt (2010). Diante disso, alguns teóricos defendem
que tais experiências são defesas subjetivas diante da morte. Portanto,
experiências com conteúdo espiritual são relevantes para o paciente no
enfrentamento do processo de morrer.
Além disso, Os pacientes que passam pelas
EQMs positivas tendem a melhorar psicologicamente, como também a querer ser uma
pessoa melhor depois da experiência, devido ao amor e compaixão oferecidos pelo
ser de luz (Junior, 2010). Há também os casos de EQMs negativas, mas de qualquer forma tais vivências induzem o indivíduo a mudar suas
atitudes diante da vida. O processo de mudança pode ser difícil para algumas pessoas, incluindo alterações de personalidade, depressões ou conflitos nas relações interpessoais, mas é sempre significativo (Greyson, 2007). Este processo não estão ligado à
religiosidade, visto que, nem todos que passaram pela experiência têm uma
crença definida, está ligado sim à espiritualidade, de acordo com a definição proposta anteriormente.
Como podemos
observar sumariamente, é importante que haja uma inclusão da espiritualidade
nos tratamentos médicos convencionais em pacientes portadores de doenças graves
e/ou terminais, como uma forma de re-significação da dor simbólica da morte,
levando os mesmos a terem uma morte de forma digna e serena. Propomos também
uma reflexão sobre as EQMs, tida por muitos como algo ruim ou assustador,
quando na verdade a maioria das pessoas tem consequências positivas ao passar
pela experiência.
Se quiser refletir um pouco mais sobre as EQMs em
crianças, assista o vídeo:
Bibliografias
Todos as referências utilizadas estão na página "Indicações de vídeos e leituras".
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