segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Espiritualidade e Saúde

Ao longo do tempo, é possível observar um duelo de separação entre a ciência e a religião como dois campos oposto e divergentes. Contudo no inicio deste século pode-se observar um desenvolvimento maior de pesquisas que envolvem a espiritualidade e a saúde tendo aquela como fundamental para o tratamento de pacientes em casos terminais. 
Elias (2003) mostra em sua pesquisa a importância das vivências espirituais para os pacientes. Vale salientar que na ciência, espiritualidade e religiosidade são diferentes. O fato de pertencer ou não há uma organização religiosa não determina a espiritualidade do indivíduo (Thonsem, 1998, como citado em Elias & Giglio, 2002).
Sabe-se que a espiritualidade sempre esteve presente na humanidade, o que indica a sua importância na filogênese da espécie. A espiritualidade preencheu a necessidade humana de encontrar explicações para tudo aquilo que os afetava, mas estava fora do seu controle, como é o caso da morte. Negligenciar este fator é, desse modo, ignorar uma necessidade humana, que influencia a nossa percepção dos fatos e a nossa capacidade de lidar com eles; o que ,consequentemente,  afeta o nosso bem-estar e a nossa saúde. 
Os resultados da pesquisa citada indicaram a importância de considerar a espiritualidade no contexto da saúde. Experiências de quase-morte, entre outras experiências espirituais, exercem impactos positivos nos pacientes e podem aprimorar sua forma de lidar com a doença, fornecendo novas maneiras de encarar o processo de morrer.  Para saber mais, leia o texto “aprofundando”.

Aprofundando


O momento da morte é encarado pela maioria das pessoas como algo tenebroso, sombrio e assustador, levando muitas vezes os pacientes em quadros de doenças irreversíveis a se desesperarem, agravando mais ainda o seu estado de saúde e sua situação psíquica. Pensando nisso, Elias e Giglio, (2002, p.3) se utilizaram de “técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com elementos que descrevem a natureza da Espiritualidade, como forma de re-significar a dor simbólica da morte em pacientes terminais”. Esse tipo de intervenção enquadra-se dentro dos objetivos da psicoterapia breve de apoio, que tem como finalidade segundo Elias (2003, p.2) “recuperar o equilíbrio homeostático que se expressa no alivio dos sintomas”.
A pesquisadora pedia aos pacientes para visualizarem em sua mente imagens confortadoras ligadas a espiritualidade como paisagens tranquilas e bonitas, levando-os a desfocar o pensamento do medo, das angustias frente à morte, focando-os em estados mentais de serenidade, beleza e paz. Espiritualidade neste contexto, foi definida conforme Elias e Giglio (2002, p.4), como estando “relacionada a uma atitude, a uma ação interna, a uma ampliação da consciência, a um contato do indivíduo com sentimentos e pensamentos superiores”.
Os resultados da pesquisa comprovaram que as pessoas que foram submetidas a este tipo de intervenção obtiveram melhor qualidade de vida no processo de morrer, bem como uma morte digna e serena. Um exemplo disto foi este caso relatado por Elias (2003, p.4):
J.C.B., aproximadamente uma hora antes do óbito, pediu que a psicóloga colocasse a música suave e instrumental durante o atendimento e pediu-lhe para orientar o processo de visualização com paisagens tranquilas e bonitas. No momento do óbito ainda escutava a música e estava sereno. Havia a possibilidade do paciente morrer por asfixia, com muita aflição, o que não ocorreu.

        Muitas pessoas antes de morrer em uma das seções obtiveram experiências metafísicas, como foi o caso de uma criança que disse ter visto três crianças vestidas de branco, que tinham vindo brincar com ela, após o acontecido a criança se mostrou mais relaxada (Elias, 2003). Isto nos faz refletir sobre a importância das EQMs. Experiências de quase-morte, como o próprio nome sugere, estão associadas à pacientes que sofreram um risco real de morte, no entanto, algumas pesquisas indicam que a mesma pode ocorrer diante da percepção subjetiva de um risco, que pode não ser clinicamente real (Serralta; Cony; Cembranel; Greyson; Szobt (2010). Diante disso, alguns teóricos defendem que tais experiências são defesas subjetivas diante da morte. Portanto, experiências com conteúdo espiritual são relevantes para o paciente no enfrentamento do processo de morrer.
Além disso, Os pacientes que passam pelas EQMs positivas tendem a melhorar psicologicamente, como também a querer ser uma pessoa melhor depois da experiência, devido ao amor e compaixão oferecidos pelo ser de luz (Junior, 2010). Há também os casos de EQMs negativas, mas de qualquer forma tais vivências induzem o indivíduo a mudar suas atitudes diante da vida. O processo de mudança pode ser difícil para algumas pessoas, incluindo alterações de personalidade, depressões ou conflitos nas relações interpessoais, mas é sempre significativo (Greyson, 2007). Este processo não estão ligado à religiosidade, visto que, nem todos que passaram pela experiência têm uma crença definida, está ligado sim à espiritualidade, de acordo com a definição proposta anteriormente.
Como podemos observar sumariamente, é importante que haja uma inclusão da espiritualidade nos tratamentos médicos convencionais em pacientes portadores de doenças graves e/ou terminais, como uma forma de re-significação da dor simbólica da morte, levando os mesmos a terem uma morte de forma digna e serena. Propomos também uma reflexão sobre as EQMs, tida por muitos como algo ruim ou assustador, quando na verdade a maioria das pessoas tem consequências positivas ao passar pela experiência.

Se quiser refletir um pouco mais sobre as EQMs em crianças, assista o vídeo:

                 


Bibliografias

Todos as referências utilizadas estão na página "Indicações de vídeos e leituras". 

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